Vertente Psicológica

Processo Do Envelhecimento Psicológico

A velhice era encarada como período, marcado exclusivamente por perdas e degradação.
Partindo da visão do envelhecimento psicológico semelhante ao biológico, deparamo-nos com algumas raízes de preconceito em relação ao idoso. À velhice, associam-se a dependência, doença, isolamento, inactividade e sofrimento. Essas associações são feitas como se estas características fossem universais e irreversíveis nesta etapa de vida.

No entanto trata-se de uma etapa de vida marcante em que são comuns as manifestações de alegria, júbilo, vitória, "missão cumprida", "topo da montanha" e outras de natureza semelhante. Todavia, surgem outras como o medo do desconhecido, da ociosidade, da perda do status, do isolamento, da perda do contacto com amigos, do preconceito, da discriminação e da inutilidade.

Tais sentimentos e reacções encontram alguma explicação quando analisamos a origem da palavra APOSENTAR: "dar aposento a, pôr de lado, pôr à parte". Aposento é definido como "quarto de dormir". Não é de se estranhar, portanto, que as pessoas que se encontram nesta fase da vida se sintam como peças descartadas, depois de contribuírem, durante tantos anos, com sua força de trabalho e dedicação.

O processo de envelhecimento psicológico que, actualmente, é visto de forma distinta do envelhecimento biológico, permite que, mesmo em idade avançada, os indivíduos consigam manter sua capacidade funcional, desenvolver actividades de relevância tanto para si próprios como para a sociedade. Factores ambientais, hereditários, psicossociais e culturais exercem, certamente, forte influência sobre estas conquistas; entretanto, já se considera um grande avanço a derrubada do mito da universalidade e irreversibilidade do declínio no envelhecer psicológico.

Obviamente, não se pode deixar de considerar alguns aspectos que representam mudanças esperadas e condizentes com o envelhecimento natural. Uma delas é a diminuição da plasticidade comportamental, que pode ser definida como a possibilidade de mudar para adaptar-se ao meio, através de novas aprendizagens. Outro exemplo é a diminuição da resiliência, definida como a capacidade de reagir e de recuperar-se dos efeitos da exposição a eventos stressantes, como doenças, traumas físicos e psicológicos, perdas de entes queridos e outros.

Mesmo sob estas condições, advindas do envelhecimento natural, observam-se pessoas que empreendem acções nas suas próprias vidas que funcionam como suporte para minimizar os efeitos nocivos deste processo. Estas acções referem-se à busca do trabalho comunitário, da actuação como voluntários em actividades sociais e do envolvimento constante com outras gerações, no sentido de afirmar a sua própria importância na transmissão de valores morais e éticos, valioso legado para jovens e sociedade de um modo geral.

Assim, procura-se analisar a aposentadoria a partir da influência que ela pode ter na identidade pessoal, como consequência da modificação nas relações instituídas entre o indivíduo e o sistema social. Se ele vê o trabalho como um fim em si mesmo, a aposentadoria pode levá-lo a confundir sua identidade com seu papel profissional e a vivência da velhice torna-se mais penosa.

O idoso terá de refazer sua identidade, interiorizar novos papéis, procurar novos objectivos para a sua vida. No momento em que é obrigado a desfazer-se do seu papel profissional, ele deverá dar início a um processo de reestruturação de sua identidade.

Paralelamente a todos esses acontecimentos, o indivíduo pode deparar-se com questões  acerca de sua sexualidade, de sua capacidade de continuar atraindo e de ser atraído, medo da impotência (no homem) e da diminuição da libido (na mulher).

As alterações na sexualidade, por ocasião da velhice, não estão directamente relacionadas à idade, mas sim a diversos factores como vivência de sexualidade nas etapas anteriores, valores culturais, morais, éticos, religiosos e sociais. Mesmo os distúrbios orgânicos, que poderiam limitar tal actividade, já encontram, na medicina actual, tratamento bem-sucedido.
Este aspecto na vida do ser humano está vinculado também, é claro, à sua auto-estima, e ao seu desejo de dar prosseguimento a todos os seus projectos de vida. A velhice é a última etapa da vida, mas pode e precisa ser vivida com intensidade. Um psiquiatra austríaco, Adler, autor do livro "Sentido da Vida" (1930) fala dos seus 20 melhores anos como sendo os últimos. Declarou isto aos 80 anos, afirmando ter sido a fase dos 60 aos 80 anos a que viveu com mais prazer, mais realizações e sentimento de plenitude.

Quando mantém presente na sua existência uma meta, um alvo, um objectivo, o idoso pode prolongar o desfrutar do sabor da vida. A partir do momento em que se pode fazer maior uso da liberdade e do tempo, pode-se alcançar voos muito mais altos e criativos.
E como toda conquista requer coragem e ousadia, é compreensível que também aqui o idoso seja estimulado a romper com o comodismo, com as desculpas que encontra para si mesmo, procurando avançar nos limites que lhe foram impostos.